Não houve remodelação profunda do Governo: os nomes do novo ministro e da nova ministra foram anunciados nesta segunda-feira, por António Costa.
João Galamba vai ser ministro das Infraestruturas – mas não da Habitação, que “ganha” um ministério próprio, liderado por Marina Gonçalves.
O primeiro-ministro não seguiu as ideias de quem defendia mudanças mais drásticas, com nomes da sociedade civil, por exemplo. Costa preferiu a “prata da casa”, como analisou Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da República.
Há quem sugira que o líder do Executivo foi aos “saldos e às promoções”. Ou seja, encontrou soluções mais fáceis, quem já conhecia e quem já estava dentro da “máquina governativa”.
“Estamos numa época de saldos e de promoções e António Costa fez duas promoções. Promoveu João Galamba e a Secretaria de Estado da Habitação a Ministério, mantendo a titular. Não é uma remodelação”, analisou o politólogo José Filipe Pinto, no jornal i.
Galamba era secretário de Estado do Ambiente e da Energia. E nesse contexto envolveu-se em diversas polémicas.
Uma das mais mediáticas está relacionada com extração de lítio em Boticas e em Montalegre, lembra o jornal Correio da Manhã. O então secretário de Estado assinou um despacho que permitia às empresas Savannah e Lusorecursos avançar com projectos de extração nesses dois locais – mas o despacho não foi logo publicado no Diário da República. Mais tarde teve de se explicar perante os deputados.
Outro caso ainda está a ser investigado pelo Departamento Central de Investigação e Acção Penal: suspeitas de crimes de tráfico de influências e corrupção no favorecimento do consórcio H2Sines (EDP/Galp/REN/ Martifer e Vestas), no megaprojecto do hidrogénio verde em Sines.
Siza Vieira e Matos Fernandes também estão a ser investigados. António Mexia e João Manso Neto, ex-administradores da EDP, foram outros dos visados, assim como o administrador da Galp, Costa Pina.
Ainda nesse caso, Galamba terá estado sob escuta telefónica, por parte do Ministério Público, que também terá feito o mesmo a ministro da Economia e da Transição Digital, Pedro Siza Vieira. As escutas em questão terão decorrido durante a fase de pré-escolha das empresas candidatas aos negócios do hidrogénio verde.
Galamba nomeou João Bernardo para o cargo de diretor-geral da Energia e Geologia – João Bernardo tinha deixado de ser director de Serviços de Sustentabilidade Energética porque tinha cometido várias “falhas no cumprimento das atribuições, com impacto negativo no serviço público”.
Também já foi associado à detenção de José Sócrates: terá avisado o antigo primeiro ministro, por mensagem de telemóvel, que algo iria ser feito contra ele – embora não soubesse o que era. Um mês depois, Sócrates foi detido.
João Galamba também é conhecido pelos seus ataques pessoais, com ou sem piadas.
Uma delas centrou-se em Pedro Passos Coelho: adaptou um anúncio do suplemento Calcitrim, colocou a cara do antigo primeiro-ministro e escreveu: “Eu dou-me muito bem com Empobrecin e as minhas amigas tomam todas. Ligue agora e cumpra já as suas metas do défice”. As críticas apareceram de imediato.
Voltando ao assunto hidrogénio, quando o professor universitário Clemente Pedro Nunes criticou a Estratégia Nacional para o Hidrogénio – disse que os contribuintes vão ser “roubados” – João Galamba reagiu: “É um aldrabão encartado“.
A palavra mais famosa de sempre do novo ministro será “estrume”. Foi essa a palavra que escolheu para descrever o programa Sexta às 9, da RTP: “Lamento, mas estrume só mesmo essa coisa asquerosa que quer ser considerada ‘um programa de informação’. Mas se gosta desse caso psicanalítico em busca da sua expiação moral, bom proveito”.
Agora, João Galamba, sucessor de Pedro Nuno Santos, passa a ter mais duas “batatas quentes”: a TAP e o processo do aeroporto. Sem esquecer a remodelação da ferrovia em Portugal.
O ministério da Habitação, agora isolado, vai ser liderado por Marina Gonçalves. Aos 34 anos, é a ministra mais nova de sempre em Portugal, sublinha a revista Visão. O recorde anterior era de Assunção Cristas (36 anos).
Proveniente de Caminha, era secretária de Estado da Habitação e conhece Pedro Nuno Santos há muitos anos – e tem um estilo semelhante ao do antigo ministro, apurou o jornal Observador.
É conhecida por “trabalhar desalmadamente”, deixa de dormir para cumprir o que estava previsto. Mas alguns socialistas desconfiam da nova ministra, enquanto outros (no topo) vêem em Marina um elemento muito forte do partido e do Governo.
João Galamba e Marina Gonçalves vão tomar posse nesta quarta-feira, depois de Marcelo Rebelo de Sousa ter aceitado a lista apresentada por António Costa.
Nuno Teixeira da Silva, ZAP //
03/01/2023